Papa Francisco cita “convulsão social e política” nas Américas em mensagem de Natal
Em sua benção natalina neste dia 25 de dezembro, em meio a uma série de mensagens políticas e uma menção a “muros de indiferença” enfrentados por migrantes, o papa Francisco pediu que o povo venezuelano “receba a ajuda que precisa”.
O país latino-americano é alvo de embargos e sanções e vê indicadores sociais e econômicos despencarem em meio a uma disputa entre duas alas políticas opostas, representadas por Nicolás Maduro, de um lado, e Juan Guaidó, de outro.
“Que o menino de Belém traga esperança a todo o continente americano, onde várias nações estão passando por um período de convulsão social e política. Que ele encoraje o amado povo venezuelano, há muito tentado por suas tensões políticas e sociais, e garanta que eles recebam a ajuda de que precisam”, afirmou.
A benção “urbi et orbi” (“para a cidade e para o mundo”, em português) acontece duas vezes por ano – na Páscoa e no Natal. Em sua mensagem aos fiéis, o líder máximo da igreja católica também pediu orações pelos povos da Síria, do Líbano, do Iêmen, da República Democrática do Congo e da Ucrânia.
“Que Cristo leve sua luz às muitas crianças que sofrem em guerras e conflitos no Oriente Médio e em vários países do mundo”, disse o papa a uma multidão na Praça de São Pedro, no Vaticano.
Ele também fez menção à disputa de territórios entre israelenses e palestinos. “Que o Senhor Jesus traga luz à Terra Santa, onde nasceu como salvador da humanidade, e onde tantas pessoas – com dificuldades, mas sem desanimar – ainda aguardam um tempo de paz, segurança e prosperidade.”
E pediu orações às vítimas de perseguição religiosa, “especialmente missionários e fiéis que foram seqüestrados”, e às “vítimas de ataques de grupos extremistas, particularmente em Burkina Faso, Mali, Níger e Nigéria”
Migrantes
Os migrantes mais uma vez foram alvo de defesa e pedidos de orações pelo papa Francisco.
Em uma das frases mais fortes da benção, o católico disse que os mares e desertos atravessados pelos migrantes se transformam em “cemitérios”.
Ele também se referiu a “muros de indiferença” como obstáculos aos homens e mulheres que deixam seus países em busca de segurança e oportunidades.
“Que o Filho de Deus desça à terra do céu, proteja e sustente todos aqueles que, devido a injustiças, são forçados a migrar na esperança de uma vida segura”, afirmou.
“É a injustiça que os faz atravessar desertos e mares que se tornam cemitérios. É a injustiça que os obriga a viver formas indescritíveis de abuso, escravidão de todo tipo e tortura em campos de detenção desumanos”.
Ele completou: “É a injustiça que os afasta de lugares onde eles podem ter esperança de uma vida digna, mas se vê diante de muros de indiferença”.
Missa do Galo
Horas antes, na noite de Natal, o papa liderou a Missa do Galo e disse que Deus ama a todos – “até os piores de nós”.
“Você pode ter ideias equivocadas, pode ter feito um caos completo … mas o Senhor continua a amar você”, disse o pontífice.
O pronunciamento foi interpretado como uma referência aos escândalos da Igreja, incluindo abuso sexual.
Entre os presentes na missa, estavam crianças escolhidas de países como Venezuela, Iraque e Uganda.
Segundo o correspondente da BBC em Roma, Mark Lowen, foi um gesto claro em relação à situação de migrantes e vítimas de guerra, bem como o desejo de estender o alcance da Igreja à sua periferia.
O que o Papa disse?
“O Natal nos lembra que Deus continua a amar todos nós, mesmo os piores de nós. Para mim, para você, para cada um de nós, ele diz hoje: ‘Eu amo você e sempre amarei você, pois você é precioso aos meus olhos”, disse o pontífice.
“Deus não ama você porque você pensa e age da maneira certa. Ele ama você, pura e simplesmente. Seu amor é incondicional; não depende de você”.
E o Papa também aludiu aos abusos clericais e escândalos financeiros que afetam a Igreja.
“O que quer que dê errado em nossas vidas, o que não funciona na Igreja, quaisquer que sejam os problemas existentes no mundo, não servirão mais de desculpa”.
Qual é o contexto?
De cidades australianas a escolas na Irlanda e cidades nos EUA, a Igreja Católica vem enfrentando uma série de acusações de abuso sexual infantil nas últimas décadas.
Casos de destaque e testemunhos contundentes de vítimas continuaram mantendo o assunto nas manchetes.
No mais recente deles, o cardeal George Pell foi condenado por abusar de dois garotos do coral em Melbourne em 1996. Pell era a principal figura da Igreja Católica na Austrália e havia sido tesoureiro do Vaticano – ou seja, ocupava o terceiro cargo mais poderoso da Santa Sé.
Na semana passada, o papa introduziu mudanças radicais para remover a regra do “sigilo pontifício” que permeou a questão do abuso de crianças clericais.
A Igreja anteriormente mantinha casos de abuso sexual em segredo, argumentando que se tratava de um esforço para proteger a privacidade das vítimas e a reputação dos acusados.
Mas novos documentos papais suspenderam restrições sobre aqueles que denunciam abusos ou dizem que foram vítimas.
O papa também mudou a definição de pornografia infantil do Vaticano, aumentando a idade de 14 ou menos para 18 ou menos.
Francisco enfrentou sérias pressões para liderar e gerar soluções viáveis para a crise, que tomou conta da Igreja nos últimos anos.
BBC News
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