Delação de Riva transfere pecados a terceiros, diz advogado de Arcanjo
Após ouvir o depoimento do ex-deputado estadual José Riva, na tarde desta terça-feira (18), o advogado do bicheiro João Arcanjo Ribeiro, Zaid Arbid, afirmou que “estão criando uma nova forma indulgência”. Ele se refere à delação premiada que Riva firmou com o Ministério Público.
O ex-presidente da Assembleia Legislativa depôs como testemunha à juíza Ana Cristina Mendes, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, em um dos processos referentes à Operação Arca de Noé, desencadeada em 2002.
Na audiência, a defesa de Arcanjo apresentou uma contradita, alegando que na época em que estourou a Arca de Noé, Riva omitiu esses fatos à Justiça. Após 18 anos, o ex-deputado resolveu expor as ilegalidades da Assembleia Legislativa no período em que foi presidente.
Ao Ministério Público, ele revelou que chegou a dever R$ 25 milhões ao ex-comendador e bicheiro e a dezenas de factorings.
“O ex-deputado Riva promove uma delação em que ele acha que ganha indulgência, não será mais pecador e os pecados serão transferidos a terceiros”, critica Zaid.
Na colaboração, foi decidido que Riva devolvesse o valor superior a R$ 50 milhões aos cofres públicos. A defesa do Arcanjo, porém, voltou a criticar a delação do ex-deputado. “Se você esteve participando de um crime, vai pra delação e você nada mais deve e só quem passou por perto passa a ser o culpado. Essa é a delação, a nova peça processual que é um bom negócio para os criminosos”, aponta.
Após prestar depoimento, José Riva disse à reportagem que está “aliviado”. “A delação sequer foi homologada e está em sigilo. Não há nada novo. Todos os fatos já conhecidos. Eu apenas fiz minha parte”, comenta.
As negociações, que se iniciaram no início de 2019, foram concluídas em dezembro passado, sob a coordenação da procuradora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), Ana Cristina Bardusco Silva.
Nos documentos, o ex-deputado detalhou que, durante os 20 anos que atuou como deputado (1995-2014), houve pagamentos de propina para 38 deputados com o objetivo de apoiarem o governo do Estado. O valor total do esquema chegou a R$ 175,7 milhões.
Operação Arca de Noé
A operação foi desencadeada no dia 5 de dezembro de 2002 pela Polícia Federal, levando para a cadeia o então comendador João Arcanjo Ribeiro, responsável por comandar o crime organizado no Estado.
Arcanjo, ao tomar conhecimento da operação, fugiu do Brasil. Ele só foi preso no dia 11 de abril 2003 no Uruguai e foi extratitado para o Brasil em 2006.
Arcanjo foi condenado por vários crimes, entre eles, a morte do empresário Sávio Brandão. À época, o comendador foi acusado, pelo Ministério Público, de matar os empresários Rivelino Brunini, Fauze Rachid Jaudy e Mauro Manhoso, o cabo da PM Valdir Pereira, e Leandro dos Santos, Celso Borges e Mauro Moraes, que teriam assaltado uma das bancas de jogos de bicho da Colibri.
Arcanjo foi preso novamente o ano passado acusado de continuar a comandar o jogo do bicho em Mato Grosso. Porém, se encontra em liberdade.
GD
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