Por que os jovens de hoje só pensam em beber? 50 mil jovens morrendo no trânsito por causa da bebida.
Eu não sei quando isso começou. Algo me diz que foi há 10 anos, quando eu estava prestes a concluir o ensino médio. Há quem diga que no fundo as coisas sempre foram assim. Mas o fato é que aconteceu e de repente a grande maioria dos caras e também das meninas da minha geração começaram a considerar como principal razão e conquista da vida nada mais que consumir bebida alcoólica.
Em uma progressão contínua, de repente todos passaram a se orgulhar em beber e beber muito. Fotos de latas de cervejas empilhadas ganham repercussão desmedida nas redes sociais. Nos grupos de Whatsapp criados para reunir as galeras da época do colégio, muitas pessoas orgulham-se de estar tomando uma naquele momento e parece existir uma espécie de disputa velada para ver quem se destaca quando o assunto é álcool. Ninguém se interessa pela vida um do outro, ninguém está interessado em compartilhar conquistas, sendo que a única conquista possível é justamente encher a cara.
Tem outros troféus além de ser o que mais empilha latinhas vazias
Obviamente esse texto não se trata de algo escrito por um crente legalista que repudia o menor contato com a bebida alcoólica. Pelo contrário, apesar de ter tomado uma decisão pessoal de não beber, tenho a lucidez teológica e espiritual necessária para entender que as bebidas alcoólicas fazem parte de um grupo de bebidas, onde muitas outras são inclusive muito mais prejudiciais à saúde, como por exemplo os refrigerantes. Sim, há pessoas que consomem bebidas alcoólicas porque curtem o sabor e são apreciadores, e jamais fazem disso um troféu ou o único assunto sobre o qual conseguem falar.
Dito isso, preciso retornar ao meu assunto inicial. A minha geração tornou-se um sem número de jovens que só pensam em beber. As motivações para isso, penso eu, são inúmeras. Entre elas, o já famigerado desejo de aceitação social, a desilusão com a vida e a falta de coragem de admitir sua dificuldade de ser, conforme falou Paul Tilich.
Os nerds, os quietos, os estranhos, os excluídos, entre outras minorias presentes no colégio se transformaram em pessoas incluídas a partir do momento em que fizeram de suas vidas algo parecido com a dos descolados, bonitões, esportistas e etc. Isso significa que ambos se reúnem diante de uma mesa para tomar cerveja. Não obstante, encontra-se o fato dessa geração ser desiludida com a vida. Também pudera, as instituições políticas faliram de vez, as religiosas encontram-se no século passado, empreender no Brasil é quase impossível e assinar um contrato de trabalho é quase como assinar um tratado de escravidão. Poderia restar-lhes o amor, mas são igualmente desiludidos nessa área, diante das decepções e também do receio que permeia a mente ao ver o fracasso do casamento dos pais e parentes próximos. Enfim, resta-lhes o bar.
Sobre o assunto, a maioria deles disfarça ao serem questionados sobre a razão de tanta bebedeira. A tangente para sair é o humor ou a auto depreciação exagerada e embalsamada de ironia. Do alto de seus 20 e poucos gritam, para ver se o barulho da voz disfarça o tamanho da vergonha do fracasso. Diante disso, parece não mais existir esperança de mudança. De fato, enquanto a desesperança for a rainha, os bobos da corte serão movidos a álcool.
A vida pode ser mais
No entanto, ainda pode existir uma mudança a partir daqueles que perceberem que de repente encher a cara não é a coisa mais extraordinária da vida. Isso porque, no fundo, no fundo, ninguém quer um marido/esposa beberrão, e filho nenhum merece fazer terapia aos 12 anos por sofrer com pais alcoólatras.
Não é papo de crente. Ou é, mas não com aquela velha intenção de simplesmente fazer mais um prosélito. A questão é que sem beber para ficar bêbado, também é possível se divertir. É claro, um pouco menos desinibido, mas com diversão sim. Os benefícios para o corpo a curto e médio prazo são provados e comprovados pela ciência. Ademais, cerca de 50 mil brasileiros morrem por ano em acidentes relacionados ao abuso de álcool, mais ou menos o mesmo número de soldados mortos na Guerra do Vietnam.
Por fim, faço um apelo a toda essa geração que só vê sentido na vida se ela for regada a bebida alcoólica. E digo que não, o apelo não é para que parem de beber. Seria muita pretensão e proselitismo barato. Mas a intenção é que mude sua forma de se relacionar com a bebida. O Dr. Dráuzio Varela diz que quem bebe ocasionalmente possui um repertório amplo e diversificado de atividades que lhe proporciona prazer. Essa pessoa corre, lê, vê televisão, vai ao cinema, faz esporte, etc. Portanto, aconteça o que acontecer, encontre um sentido para sua vida que vá para muito, muito, muito além da bebida alcoólica.
Ou esqueça tudo o que leu e seja pra sempre um grande fracasso!
Texto.L
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