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Como uma rádio indígena na web quer combater estereótipos



EVELYN TERENA, REPÓRTER DA YANDÊ EM ASSEMBLEIA DO POVO TERENA

A Rádio Yandê é a primeira rádio indígena on-line brasileira. Ela iniciou seu streaming em novembro de 2013 e, além da programação 24 horas do site, também está presente nas redes sociais, como Facebook e  Instagram, e disponibiliza conteúdos em vídeo no YouTube e em áudio pelo Soundcloud.

Está sediada no Rio de Janeiro, mas conta com programação feita por gente de todo o território nacional. Sua equipe fixa, assim como colaboradores e correspondentes, são todos indígenas. A palavra “yandê”, de acordo com uma das fundadoras, Renata Machado, jornalista da etnia tupinambá, vem da língua tupi mas é muito usada em nheengatu, língua derivada do tupi. Dependendo do contexto, ela pode significar tanto “você” quanto “nosso” e “nós”. O slogan adotado é “a rádio de todos nós”.  14.012 foram as visitas ao site em outubro Segundo dados da rádio, os países com maior número de ouvintes são, respectivamente, Brasil, EUA, Colômbia e Rússia.

Em 2017, o site foi visitado por mais de 60 países. Protagonismo A difusão da cultura indígena e o fortalecimento da identidade dos diferentes povos, unidos à informação, educação e ao combate de estereótipos, são os propósitos do conteúdo produzido e veiculado pela rádio. Denúncias de violência e cobertura de conflitos, inclusive nas redes sociais, também encontram espaço.

Abaixo, o Nexo lista alguns preconceitos e equívocos que a atuação da rádio busca combater, citados em entrevista por Renata Machado:

VISÃO HOMOGÊNEA DOS POVOS INDÍGENAS Segundo Machado, há uma generalização, presente no tratamento dos veículos de comunicação e da população brasileira em geral, entre as 305 etnias que são, na verdade, muito distintas entre si em suas formas de ver o mundo, sua organização social e religião. Cada povo é um, e, segundo ela, os conteúdos da rádio buscam representar essa diferença.

VISÃO CRISTALIZADA DE SEU MODO DE VIDA A imagem dos povos indígenas perpetuada pelos livros de história e mesmo pela literatura indianista do século 19, muitas vezes estereotipada e fixa no passado, também é criticada pela fundadora da rádio. “Isso é muito ruim, porque as pessoas não sabem quem é o indígena contemporâneo, não têm ideia do que acontece dentro das comunidades nem das diferenças de uma para outra”, disse ao Nexo.  “Estamos vivos, não fomos todos mortos em 1500 – embora alguns quisessem isso. Nossa cultura está em transformação, está se adaptando.”

COBERTURA QUASE EXCLUSIVA DE FATOS NEGATIVOS O predomínio de conflitos no noticiário relacionado à questão indígena é um dos fatores responsáveis por não se saber mais sobre a cultura dos povos, como vivem hoje e quais são as realizações dos indígenas contemporâneos. A equipe da rádio também ministra oficinas de comunicação nas comunidades, em escolas indígenas e universidades.

De uma delas, no Amazonas, surgiu o primeiro boletim de áudio feito por indígenas de São Gabriel da Cachoeira. Programação A rádio tanto produz conteúdo como conta com algumas emissões de caráter colaborativo, feitas a partir de áudios enviados por lideranças, educadores, membros de organizações e jornalistas indígenas que estão por todo o Brasil. Os colaboradores se comunicam com os produtores da rádio pelo grupo da rádio no Whatsapp, que tem em torno de 200 membros.

Há também os correspondentes indígenas, que estão no Amazonas, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Bahia.  A grade de programação tem transmissões musicais, que servem de incentivo aos artistas indígenas. Segundo Renata Machado, 80% das músicas tocadas são cantadas em línguas indígenas brasileiras. O restante se divide entre as que são interpretadas em português, também por artistas indígenas, e em línguas indígenas de outros países. Há tanto canções tradicionais quanto contemporâneas, em que diferentes etnias se apropriam de gêneros da música popular, como forró na língua kayapó ou heavy metal em tupi.

Entre os programas, há dois destaques: o “Papo na Rede”, em que indígenas de diferentes etnias e até de outros países conversam sobre variedades e seu cotidiano, via Google Hangouts, com correspondentes, coordenadores e colaboradores da rádio o programa “Yandê Connection”, que conecta indígenas de diferentes países para trocarem experiências e informar sobre a situação de seus respectivos países.

É transmitido ao vivo pelo YouTube e pelo site da rádio, em espanhol e inglês Por notarem os acessos ao site vindos de dezenas de países, os produtores da Yandê passaram a aceitar também conteúdos de colaboradores indígenas de outros países, sobretudo latino-americanos. Contam hoje com um primeiro correspondente indígena estrangeiro, Pablo Perez, no México. Acesso à internet A comunicação autônoma proposta pela rádio, no entanto, pode não estar sendo tão disseminada entre algumas populações por conta de limitações de conexão das aldeias.

Em 2015, o governo federal anunciou que levaria banda larga a comunidades indígenas, quilombolas e rurais com a instalação de 167 antenas. O programa, chamado de Gesac, Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão, pretende oferecer conexão gratuita nesses locais por via terrestre e satélite. Embora o acesso tenha se ampliado – segundo dados de 2016 do programa, havia 33 pontos ativados em comunidades indígenas e 8 em ativação –, a qualidade da conexão ainda é ruim, segundo dois relatos ouvidos pelo Nexo.

O primeiro deles é de Ray Baniwa, comunicador indígena do Alto Rio Negro e assessor da Federação das Organizações Indígenas em São Gabriel da Cachoeira. Segundo Baniwa, o acesso é restrito e ruim na região. “Esse ano foi instalado apenas um ponto de internet via programa Gesac [na região]. A maioria desses pontos estão nos pelotões de fronteira do exército, que nem sempre são acessíveis pelas comunidades indígenas, por serem distantes”, disse em entrevista. Já as colaborações de diferentes aldeias que chegam diariamente pelo Whatsapp, segundo Renata Machado, tornaram-se possíveis com o acesso à internet. Mas ele é precário. “Em alguns lugares não tem sinal de telefone, mas às vezes tem sinal de internet, via satélite.

É lento mas às vezes funciona. Tem momentos em que eles conseguem mandar as coisas, mesmo sendo um sinal não muito forte”, disse. “Isso é uma coisa que tem atrapalhado. Às vezes as pessoas têm que ir à cidade, baixar conteúdos no formato de podcast ou via Whatsapp e escutar na aldeia”. Embora ainda haja problemas no acesso, a produção e audição de conteúdos como os da Rádio Yandê é possível por haver uma “juventude indígena conectada”.

Este é o título de uma dissertação de mestrado, defendida em 2017 pela pesquisadora Letícia Maria de Freitas Leite, na Universidade de Brasília. A pesquisa trata do acesso na região, do encontro e da mobilização das populações pelas redes sociais e da produção de vídeos políticos, com foco na nova geração do território indígena do Xingu, ao norte do Mato Grosso.

Fonte: Juliana Domingos de Lima / /www.nexojornal.com.br

 



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política - Região

Deputado Nininho confirma licitação para pavimentação da MT-326 no Araguaia


Certame licitatório foi publicado no Diário Oficial do Estado; trecho de 31,7 km em Nova Nazaré reduzirá distância em cerca de 40 km e vai ampliar a eficiência logística no Araguaia

A Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística (Sinfra) publicou na edição de 10 de dezembro do Diário Oficial do Estado o edital de licitação para executar 31,7 quilômetros de pavimentação na MT-326, entre a MT-240 e a BR-158. O certame atende solicitação do deputado estadual Ondanir Bortolini – Nininho (Republicanos). A obra vai melhorar a trafegabilidade da rodovia, apoiar produtores rurais e reduzir custos de transporte na região do Araguaia.

A pavimentação do segmento, conhecido como Estrada do Calcário, vai garantir fluxo permanente de pessoas e mercadorias pela nova rodovia. O trecho é utilizado para o escoamento de calcário proveniente de Cocalinho e produções agrícolas. O novo asfalto, segundo Nininho, vai encurtar em cerca de 40 quilômetros o deslocamento de cargas que seguem aos municípios do Norte Araguaia.

Nininho cita que a licitação é resultado de sua articulação com o governador Mauro Mendes, o vice-governador Otaviano Pivetta e o secretário Marcelo de Oliveira. “A abertura do processo é um passo aguardado pela região. São quase 32 quilômetros que vão melhorar a logística. Para quem transporta calcário de Cocalinho a Canarana, por exemplo, haverá redução de 40 quilômetros, o que beneficia toda a cadeia produtiva”, observa o deputado.

IMPACTO ECONÔMICO

O deputado acrescenta que a obra marca uma reivindicação antiga de produtores e transportadores. “A pavimentação da MT-326 vai impulsionar o desenvolvimento do Araguaia. Agradeço ao governador, ao vice-governador e ao secretário Marcelo pelo atendimento da demanda”, reforça Nininho.

O prefeito de Canarana, Vilson Biguelini, comenta que a confirmação da obra representa avanço esperado pela região. “A pavimentação da MT-326 vai se tornar realidade nos próximos dias. Essa notícia anima produtores e caminhoneiros. O calcário do Araguaia passa praticamente todo por ali. Hoje é preciso ir até Água Boa. A articulação de Nininho junto ao governo fez diferença para Mato Grosso”, relata o gestor.

Redação: Sérgio Ober


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